ESSE PEQUENO MUNDO

Sei que o mundo é mais que a casa,
mais que a rua,  mais que a escola,
mais que mãe e mais que pai.

Vai além do horizonte, 
que eu desenho no caderno,
como linha reta e preta,
que separa azul de verde.

Sei que é muito, sei que é grande,
sei que é cheio, sei que é vasto.

Me disseram que é uma bola,
que flutua pelo espaço,
atirada pelo chute
de um gigante poderoso;
vai direto para um gol,
que ninguém sabe onde é.

Mas pra mim o que mais conta
é este mundo que eu conheço
e que cabe direitinho
bem debaixo do meu pé.

do livro Cavalgando o arco-íris. São Paulo, Moderna, 1984.

CONTAS

Contas

Toda hora, todo dia
Todo mundo faz mil contas,
Conta conto, conta ponto:
Quanto custa, quanto dura?
Quanto falta, quanto deu?
Quanto vai ser o desconto?
Quanto que você ganhou?
Quanto que você perdeu?

E a cada chance perdida
A gente conta com a sorte
E faz de conta que a vida
É uma conta complicada
Que a gente não vai perder

Poema - Antonio de Pádua -
(usada no 1º encontro matemáticodo telecurso da Fundação Roberto Marinho).

O MENINO POETA

O MENINO POETA (Henriqueta Lisboa)
homenagem a Drummond
O menino poeta
não sei onde está.
Procuro daqui
Procuro de lá
Tem olhos azuis
ou tem olhos negros?
Parece Jesus
ou índio guerreiro?
Tra -la- la - la- li
tra - la- la- la- la
Mas onde andará
que ainda não vi?
Nas águas de Lambari,
nos reinos do Canadá?
Estará no berço
brincando com os anjos,
na escola travesso
rabiscando bancos?
O vizinho ali
disse que acolá
existe um menino
com dó dos peixinhos.
Um pescou por pescar
um peixinho de âmbar
coberto de sal.
Depois o soltou
Outra vez nas ondas.
Ai! que esse menino
será que será?
Certo peregrino
passou por aqui
conta que um menino
das bandas de lá
furtou uma estrela.
Tra - la - li - la lá
A estrela num choro
o menino rindo.
Porém de repente
menino tão lindo!
subiu pelo morro,
tornou a pregá - la
com três pregos de ouro
nas saias da lua.
Ai!que esse menino
será, não será?
Procuro daqui
procuro de lá.
O menino poeta
quero ver de perto
quero ver de perto
para me ensinar
as bonitas coisas
do céu e do mar.
Postado há 15th January 2013 por maria aparecida de almeid

SAUDAÇÃO A DRUMMOND

SAUDAÇÃO A DRUMMOND
(Henriqueta Lisboa)
Eu te saúdo Irmão Maior
pelo que tens sido e serás
dentro do tempo espaço afora
e além da vida: luminar
homem simples da terra
aprisionado no íntimo
para libertador de pássaros
e agenciador de símbolos.
Pela pedra no caminho
que foi ato de bravura
e foi cabo de tormentas.
Pelo brejo das almas
em verde com margaridas.
Pelo sentimento do mundo
com que orvalhas o linho
da comunhão geral.
Pelas fazendas do ar
em que brindas cultivos
de transcedentes dimensões.
Pelos claros enigmas
que decifras e que armas
em desdobrados ciclos.
Pela vida passada a limpo
em lâminas de cristal.
Pela rosa do povo
com que humanizas o asfalto.
Pela lição de coisas
que nos ensinas a aprender.
Pelo boitempo este sabor
de renascimento da infância.
Em nome de Mário de Andrade
— até as amendoeiras falam —
em nome de Manuel Bandeira
em nome de Emílio Moura
presentes embora silentes
no alto da Casa em outros
mais cômodos aposentos
de onde nos contemplam líricos
a nós abaixo no vestíbulo.
Saúdo-te mineiro Carlos
de olhos azuis como os da criança
guardada sempre mais a fundo
em candidez e malícia
ao largo de lavouras híspidas
ao longo de setenta outubros
vincados de diamante e ferro
sem nostalgia de crepúsculo.
Saúdo-te com sete rosas
em botão as mais puras
colhidas de madrugada
antes do sol em suas pétalas
por teu sétimo aniversário
outrora
de menino poeta.
Publicado: Miradouro e Outros Poemas (1976)

A MENINA SELVAGEM

A MENINA SELVAGEM (Henriqueta Lisboa)
Para Ângela Maria
A menina selvagem veio da aurora
acompanhada de pássaros,
estrelas-marinhas
e seixos.
Traz uma tinta de magnólia escorrida
nas faces.
Seus cabelos, molhados de orvalho e
tocados de musgo,
cascateiam brincando
com o vento.
A menina selvagem carrega punhados
de renda,
sacode soltas espumas.
Alimenta peixes ariscos e renitentes papagaios.
E há de relance, no seu riso,
gume de aço e polpa de amora.

Reis Magos, é tempo!
Oferecei bosques, várzeas e campos
à menina selvagem:
ela veio atrás das libélulas.
Publicado: Lírica (1958)

A OVELHA

A OVELHA
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Encontrastes acaso
a ovelha desgarrada?
A mais tenra
do meu rebanho?
A que despertava ao primeiro
contato do sol?
A que buscava a água sem nuvens
para banhar-se?
A que andava solitária entre as flores
e delas retinha a fragrância
na lã doce e fina?
A que temerosa de espinhos
aos bosques silvestres
preferia o prado liso, a relva?
A que nos olhos trazia
uma luz diferente
quando à tarde voltávamos
ao aprisco?
A que nos meus joelhos brincava
tomada às vezes de alegria louca?
A que se dava em silêncio
ao refrigério da lua
após o longo dia estival?
A que dormindo estremecia
ao menor sussurro de aragem?
Encontrastes acaso
a mais estranha e dócil
das ovelhas?
Aquela a que no coração eu chamava
– a minha ovelha?
(HENRIQUETA LISBOA)

A MENINA TRANSPARENTE

A MENINA TRANSPARENTE

A MENINA TRANSPARENTE
Elisa Lucinda

Eu apareço disfarçada de todas as coisas . . .
Posso ser vista no por-do-sol ou no nascer dele.
Eu posso estar através da janela,
Posso ser vista na asa da gaivota
Ou pelo ar que passa por ela.
Muitos me vêem no mar,
Outros na comida da panela.
Posso aparecer para qualquer ser,
Desde ele pequenininho;
Ficar com ele direitinho,
Se tratar de mim como eu merecer.
Uns me pegam pra criar em livro,
Outros me botam num vestido lindo,
Cheio de notas musicais:
Fico morando dentro da música.
Tenho muitas mães e digo mais:
Sou uma criança com muitos pais.
Tem gente que diz que eu nasço dentro da pessoa,
E faço ela olhar diferente,
Pra tudo que todos olham,
Mas não notam.
Às vezes apareço tão transparente e de mansinho
Que mais pareço um Gasparzinho.
Tem gente que nunca percebe que estou ali,
Não cuida de mim,
Não me exercita.
Eu fico como um laço de fita
Que nunca teve um rabo de cavalo dentro.
Eu fico como uma planta de dentro da casa
Que ninguém molha, conversa nem nada.
Quem me adivinha logo dentro dele,
Quem percebe que estou ali diariamente,
Quem anda comigo e com o meu gingado,
Fica com o coração inteligente
E com o pensamento emocionado.
A esse que eu dou a mão,
E vou com esse para todo lado:
Aniversários, passeios, sono, cama, biblioteca, casa, escola;
Estou com esse a toda hora.
Tem gente que me vê muito na beleza da flor,
No mato, na primavera e no calor.
É que ando muito mesmo.
Eu posso até voar!
Por isso que me vêem no céu, nas estrelas, nos planetas
E nas conversas das crianças.
Quem anda comigo tem muita esperança.
Todo mundo que me tem
Pode me usar e me espalhar por aí.
Quem gosta muito de mim,
Depois que me conhece,
Junta gente em volta como se eu fosse uma festa.
Me usam até em palestra!
Me acordam lá do papel.
Ih! Eu tinha esquecido de dizer
Que, quando a pessoa começa a me escrever,
Eu fico morando no papel.
Toda vez que alguém me lê para dentro eu passo para dentro dele.
Toda vez que alguém me lê para fora, em voz alta,
Como se eu fosse uma música,
Eu passo para dentro de todo mundo que me vê;
Eu posso trazer alento a todo mundo que me escuta.
Tem gente que me pega só numa fase,
Como se eu fosse uma gripe boa,
E como se dessa boa gripe ficasse gripada.
Quero dizer . . .
Eu dou muito no coração de gente apaixonada.
Minha palavra é do sexo feminino,
Brinco com menino e com menina,
Fico com a pessoa até ela ficar velhinha,
Inclusive de bengala;
E depois que ela morre,
Faço ela ficar viva
Toda vez que por mim é lembrada.
Às vezes eu sou sapeca,
Às vezes eu fico quieta,
Mas todo mundo que olha através de mim é poeta.
Veja se eu sou esta que fala dentro de você.
Eu não posso escrever porque não sou poeta:
Sou a poesia!
Tente agora fazer um verso.
Se eu fosse você, faria.

LIVROS - INFLUENCIADORES DE IDEIAS

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O QUINTO EVANGELHO

A VERDADEIRA RELIGIÃO

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CORDÃO DE TRÊS DOBRAS

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PERDER PARA GANHAR

PERDER PARA GANHAR 


Perder o orgulho e ganhar exaltação 
Perder a vaidade para ganhar em humildade
Perder a razão para ganhar a paz
Perder em malícia para ganhar simplicidade
Perder o egoísmo para ganhar compaixão
Perder a vingança para ganhar liberdade
Perder o direito para ganhar o perdão
Perder o medo para ganhar a fé de verdade
Perder o mundo e ganhar a salvação
Perder a vida e ganhar a eternidade
Perder tudo e ganhar a alma